Cultura Gramado

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Secretaria da Cultura

quarta-feira, 21 de julho de 2010

HOMENAGEM DA CULTURA À SILVIA ZORZANELLO


Silvia Zorzanello foi uma das principais incentivadoras do Carnaval Gramadense


Quando a vida não acaba OU Quando a memória sobrevive à morte 

TEXTO DA HISTORIADORA MARÍLIA DAROS 


Homenagem a SILVIA LOANE WILLRICH ZORZANELLO, uma amiga gramadense que sai do nosso convívio temporal e entra para as reflexões de nossos convívios de memória

Que nossas lembranças possam aquecer o tempo e acalentar nossa Gramado, carente de nós mesmos e de nossas turmas. Pois a vida não acaba aqui. Nem a da Silvia, nem a nossa.

Se a memória funcionar, vamos conviver pela eternidade.

Um acordar chuvoso e uma chuva que chora. Ou seria: um acordar em prantos e uma chuva lá fora. Quem pode saber o que o tempo nos diz somos nós mesmos. E nesta manhã fria e chuvosa de 17 de julho de 2010, o tempo, através da chuva, queria dizer alguma coisa.

Olhei pela janela embaçada do calor que trago em meu lar, contrastando com a chuva lá fora, e me parei a pensar porque não escutamos o falar do tempo. Se a gente soubesse ouvir, usar o silêncio de uma forma irmã, talvez os sons da natureza nos chegassem como recados ou avisos.

Silvia foi a criadora do Chocofest - maior evento de páscoa do Brasil

O telefone tocara muito cedo e eu soubera que a Silvia havia partido. Já perdi muitos amigos, pois afinal, não somos mais as crianças de outrora que brincavam no meio da Rua Dr. Borges de Medeiros, como se ali fosse o nosso quintal. Somos avós, tias, mães. Somos tudo do que sonhávamos ser naqueles idos anos. Somos profissionais. Aquelas que imaginávamos que seríamos. E digo mais. Somos as mulheres de um novo tempo também em Gramado, pois minha turma de reuniões, matinés e bailes, orações e estudos, todas somos especiais em nossa terra. Cada uma, de seu jeito, faz alguma coisa acontecer. Seu sonho concretizado, se tornou um produto digno e competente.

A Silvia era da turma de cima e eu, da turma de baixo. Não interpretem mal. A turma de cima eram as gurias que moravam da esquina da sinaleira para os lados do trem. A turma de baixo, eram as gurias que moravam da sinaleira para os lados do campo de futebol do Gramadense. Quem morava pelo meio, tinha que optar pra que lado ir. Mas não era como na política, que cada um precisa ter um lado muito marcado e se atirar de cabeça nas disputas. Não. A gente usava este termo para dizer melhor, pra que lados a gente morava. Na realidade, a Silvia e a Suzana moravam do lado da turma de baixo, mas depois, foram morar do lado da turma de cima. Ficou confuso? Não quero que pensem em rivalidades. Talvez até houvessem, mas eram tão insignificantes. Me atrevo a dizer que não chegam nada perto das rivalidades de hoje em dia.

Silvia Zorzanello foi uma das personalidades mais importantes do Turismo Brasileiro

Mas havia uma hora que não havia turma. Quando a Recreio chamava a gente e dizia que queria a mais bela decoração para o baile dos Estudantes ou para o baile das Hortênsias, ou para o Baile de final de ano. A gente largava tudo, se encontrava na secretaria da Recreio e então, de mangas arregaçadas, éramos uma turma só. E que turma. Os guris com a parte pesada e nós, gurias, com as cores, as formas, as flores, os recortes. E a Silvia, claro, com as falas. Ninguém podia com ela quando falava de Gramado de nossos amores. Um amor que a levou sempre em frente. Uma fala que representava a gente.

Se ela cresceu, se ela foi feliz, se ela foi produtiva e verdadeira, o seu amor por Gramado foi muito forte, saudável e verdadeiro como ela. E olha que eu sempre gostei de um microfone também. Mas ela desenvolveu antes sua garra com as palavras bem colocadas e um improviso tão correto que parecia muito bem preparado antes. Brincava que ela até parecia ser filha do Hugo Daros. Parecia até ser meio irmã então.

Nosso convívio foi muito saudável. Mesmo sendo uma da turma de cima e a outra, da turma de baixo. Afinal, o que importava mesmo, era andar por nossas ruas, dançar em nossos clubes, amar as nossas famílias, termos enfim, orgulho de sermos gramadenses.

Silvia foi a responsável pelo Acorde Musical, hoje capitaneado por seu filho Eduardo, auxiliando justamente a Liga de Combate ao Câncer
Talvez seja a hora agora de parar e escutar o que o tempo está a nos falar. Talvez as palavras da Silvia venham com ele e possamos ouvir, entre uma pancada e outra de chuva, uma voz suave e firme, a nos dizer que Gramado não pode ser submetida a toda esta intempérie. Que a saúde da alma gramadense está em risco e que precisamos estar atentos.

Talvez ela nos mande um recado no raio de luz da manhã que vai chegar para o dia de sua grande despedida. E ela nos diga que a magia do turismo está na luz da identidade coletiva de nossa comunidade. Que a grande fatia turística de nossa terra está, justamente, em dar oportunidade ao visitante de sentir o tempo, como a gente sentia no passado e de compartilhar a claridade.

Tenho certeza de que a turma de cima e a turma de baixo sabem do que estou falando. Participaram do que estou contando. Sentiram o que estou descrevendo. E melhor, estão prontos para se unirem novamente, no grande mutirão de amigos que sempre fomos, para o bem de nossa terra.

Com o mesmo amor que a Silvia soube, magistralmente, oferecer de seu melhor, aos que com ela conviveram e para com a terra que lhe serviu de berço, de nascimento e morte.

Não adianta colocar o nome dela numa praça, numa rua, num centro cultural ou turístico. É preciso entender o que o tempo da Sílvia nos deixou de legado. E não esquecer. A memória gramadense precisa alongar o olhar para além da janela, para além da chuva, para além do turismo, mas para dentro da alma.

A memória gramadense precisa olhar para o bem que cada história individual contém e respeitar o que cada um quis deixar para ser lembrado.

Eu,vou lembrar sempre da Silvia liderando a festa, não as atuais, muito cheias de gente e de barulho. Mas das festas domésticas, quentes e amigas que tivemos no passado e que fazem parte das pequenas grandes histórias de cada um nós, gramadenses orgulhosos e amorosos de sua terra.

Que nossas lembranças possam aquecer o tempo e acalentar nossa Gramado, carente de nós mesmos e de nossas turmas. Pois a vida não acaba aqui. Nem a da Silvia, nem a nossa.

Se a memória funcionar, vamos conviver pela eternidade.

Silvia com a sua parceira inseparável Marta Rossi, realizadoras do Festival de Turismo de Gramado
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HOMENAGEM DA ARTISTA PLÁSTICA RITA GIL E DA ESCRITORA VERA FISH À SILVIA ZORZANELLO


FESTIVAL DO TURISMO DE GRAMADO



Outrora
Uma pequena cidade de veraneio
O vale do quilombo
e uma grande flor de hortênsia.
Hoje
Um grande pólo turístico
e em nosso peito orgulhoso
Um lugar bem distinto
para duas araucárias
que o tempo, o trabalho e a bravura
se encarregou de consolidar
como símbolo pungente
do dinamismo de nossa gente
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Silvia Zorzanello foi Rainha da Festa das Hortênsias e trabalhou na organização desse que foi o evento-mãe do Natal Luz, Festa da Colônia e Festival de Cinema


O Universo do Turismo e da Cultura perde uma Estrela Guia: Silvia Zorzanello

O que podemos falar dessa pessoa iluminada, que foi e sempre será uma das nossas comandantes no mundo cultural e no universo do turismo da nossa cidade, do nosso estado e da nossa pátria.
Podemos lamentar essa perda, mas devemos nos lembrar dos feitos que ela nos regalou ao longo de toda sua trajetória, como empreendedora, visionária e acima de tudo como pessoa. Falar de Silvia Zorzanello é falar de simplicidade, é falar de companheirismo, é falar de generosidade, é falar de uma gramadense verdadeira.
Podes ficar tranquila minha amiga, o que fizeste jamais será esquecido. Todos nos lembraremos sempre da primeira chocofest, do Festival de Turismo, Teu e da Marta, e por consequência de toda a América Latina, de tudo aquilo que criou e executou com plenitude.
A despedida sempre é difícil, temos de nos conformar em não te ver mais andando pelas ruas da nossa cidade, em não te ver mais correndo nos pavilhões do Festival de Turismo, em não te ter mais junto da gente, da tua gente, todos os gramadenses.
Deus te chamou pra organizar os eventos lá de cima.
Todos seguimos te amando.............. mande um abraço aos nossos...........
 
Este texto foi redigido por Pepeu Gonçalves, representando o Subsecretário de Cultura Daniel Bertolucci e toda a equipe.

 Silvia com a família: Eduardo (filho), Juliana (nora), Vinícius (filho), Enoir (marido) e Dilina (sogra)
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